Há mais de três meses não atualizo o meu blog. Desculpe-me por isso. Estão sendo meses de muitas transições que vão culminar com o meu retorno definitivo para o Brasil em alguns dias.
Entretanto, o que me inspirou escrever este post, foi a minha experiência no último mês em um hospital aqui nos EUA.
Após três anos de trabalho na África, havia me acostumado com a escassez de recursos materiais e humanos. Muito mais do que no Brasil, lá faltam coisas essenciais para o funcionamento do hospital como pessoal de enfermagem, água e luz. Imagina os demais suprimentos!
Mas aqui na “América” é um abuso. O hospital é mais do que um hotel 5 estrelas. Afinal, em que hotel, você tem dieta especial levada para o seu quarto, as vezes servido na sua boca? Aqui, o carrinho com latinhas de refrigerantes e copos com gelos são distribuídos para os pacientes na hora do jantar. Luvas, as enfermeiras chegam a gastar 10 pares para trocar um curativo de um mesmo paciente! Muitos hotéis hoje, pedem para que as roupas de cama e toalhas não sejam trocadas diariamente, de forma a economizar água e energia. Aqui, as mesmas são trocadas duas ou mais vezes por dia.
Mas o que mais me chocou foi as políticas dos descartáveis, especialmente no bloco cirúrgico, aonde passei a maior parte do tempo. Primeiro que quase tudo é descartável, mesmo aquilo que não precisaria ser. Por exemplo, aqui existem 2 tipos de compressas cirúrgicas, uma azul (maior – tipo um pano de limpeza de ótima qualidade) e a branca (menor, clássica). A maior parte desses suprimentos vem em um kit de acordo com a cirurgia. O problema é que vem muito mais que o necessário, e nada é lavado e reusado. Assim, mesmo que as compressas não sejam usadas, vai tudo para o lixo! Devido ao excesso, eu presenciei em uma operação o uso de mais de 50 compressas! Se fosse em Moçambique eu teria usado no máximo duas. Cinquenta compressas talvez daria para alguns meses lá (sem precisar lavar, e até 1 ano lavando). É esse tipo abuso, ou desperdício, que não entra no meu entendimento. Uma coisa é o país ser rico, e todo mundo sabe que os EUA como país é. Contudo, aqui muita gente sofre também sem acesso aos serviços de saúde, porque é muito caro. E não é difícil de pensar, começando pelo simples, porque é tão caro.
Para estender os exemplos do desperdício, posso citar o uso de uma caneta de cautério por cirurgia (na África uma dura 1 ano ou mais), milhares de outros instrumentos cirúrgicos de uso único (como grampeadores cirúrgicos, instrumentos de coagulação), desperdício de fios de sutura e outros equipamentos de uso dispensável.
O pronto socorro parece um linha de série de tomografias computadorizadas. Se o paciente chega com um mínimo problema que um simples Rx resolve, vai para a tomografia. Daí, poderia seguir. O pior é que as pessoas aqui sabem de tudo isso, até colocam em aulas, mas nada muda. Quando a cultura e a educação por anos já é baseada no desperdício, quando adultos é difícil reverter essa criação. Deus nos livre do “jeito americano”.