quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O peixe de cada dia


Eu moro em frente de uma grande baía. A chamada baía de Inhambane. Ela é uma grande fonte de renda para muitos bitongas e matsuas (tribos locais). Daí muitos pescadores, a maioria de forma tradicional, com pequenos barcos a velas (apelidados de “dhows” ou jangadas moçambicanas), com redes, varas ou manualmente, extraem grande quantidade de peixes e frutos do mar todos os dias. Barcos maiores as vezes aparecem. Existem 2 carcaças de barcos médios que estão encalhadas na praia a muito tempo e são inclusive visíveis no Google Earth.
Normalmente o período de preferência da pesca é o da maré baixa. Dessa maneira eles podem andar pelos bancos de areia que se encontram no meio da baía. Também é na maré baixa que as mulheres catam manualmente os siris, as ameijoas e os mexilhões nos mangues das praias.
Algumas épocas do ano, como em todo lugar, o período da pesca é mais abundante. É o que acontece agora no verão em que a chuva traz consigo mais alimento e grandes cardumes de peixes, bem como a dos camarões (grande riqueza moçambicana).
O ponto de embarque e desembarque da maioria dos barcos é literalmente em frente da minha casa. Então todos os dias eu ouço os barcos chegarem e a tocarem suas buzinas, avisando suas chegadas. Nessa hora, um mundo de gente desse a praia para comprar o pescado fresco. Na maioria pequenos peixes. Alguns compram para o sustento próprio, mas muitos, especialmente as mulheres com bacias de plástico, compram e levam o pescado para revender em mercados nos bairros mais distantes ou mesmo na ponte ao lado aqui de casa, a fim de garantir o pão deles de cada dia. O fato interessante é que quando o peixe chega é a maior barulheira na praia. Além disso nessa época quente, quando o pescado é de grande volume como o de ontem, o cheiro que vem da praia é impressionante. E é capaz de infestar a minha casa e até o hospital por horas.
O peixe de cada dia faz parte da alimentação dessa comunidade. Pena que eles só tem condições de comprar aqueles pequeninos. Os maiores e de melhor qualidade são caros e acabam por serem exportados através de pequena cooperativa que também funciona aqui perto.
Essa parte da cultura e da vida diária dessa gente, ajuda-nos a pensar o quanto temos e o quanto o povo daqui luta para garantir o peixe e o pão de cada dia.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Nomes Moçambicanos - Parte 2

Uma parte interessante da cultura e da história moçambicana são os nomes das localidades, cidades ou municípios. A maioria dos nomes tem origens tribais ou familiares. Contudo, alguns provém de nomes de personalidades, outros de origem portuguesa, outros de fontes duvidosas.
Começamos por Maputo, capital de Moçambique. Após a independência em 1976, de Portugal, a feitoria Lourenço Marques, teve seu nome mudado através de um comício pelo primeiro presidente, Samora Machel. O nome é devido ao rio que corta a cidade.
Xai-Xai é o nome da capital da província de Gaza e teve seu nome modificado também após a independência. Outrora, chamava-se João Belo, um antigo administrador.
Inhambane capital da província do mesmo nome, foi o local de desembarque de Vasco da Gama em 1498 rumo a Índia. Ao desembarcar para reabastecer, foi bem recebido e chamou o local de “Terra da boa gente”, daí o nome.
Nampula, Chimoio, Beira, Tete, Quelimane são outros nomes de capitais provinciais, mas não vou comentá-las pois não tive o privilégio de conhece-las.
Maxixe é o nome esquisito da minha cidade. O nome não tem nada a ver com a dança brasileira. A lenda diz que o nome veio porque a localidade fica na passagem da estrada nacional que liga o sul ao norte do país. Como era e ainda é o ponto de parada das pessoas em viagem para fazer xixi, daí Maxixe.
Chicuque, o bairro no qual vivemos tem a origem do nome em lenda semelhante. Dizem que os portugueses quando avistaram o lugar viram algumas crianças usando uma parte do coqueiro que chamam aqui de chicute. Ao perguntá-las como chamava-se o lugar, elas pensaram que estavam perguntando qual o nome daquilo que estavam a brincar, traduzindo para o que entenderam chamaram o lugar de Chicuque.
Dentro de cada cidade existem muitos distritos, bairros e localidade. Só vou listar aqueles nomes que vem na minha mente, veja que nomes engraçados: Matacalane, Sujeira, Matadouro, Pembe, Pemba, Panga, Dambo, Mabil, Manhala-Rex, Chambone, Macupula, Nhamaxaxa, Nhambirro, Tinga-Tinga, Linga-Linga, Mongue, Rumbana, Matingane, Mocuduone, Inharrime, Inhamussua, Jangamo, Bato, Cambine, Sitila, Quissico etc, etc, etc. A verdade é: não existe nome normal.
No início do meu trabalho aqui, era o maior sofrimento, porque chegava uma paciente da roça eu tentava perguntar de onde ele vinha, ela dizia: vivo em Xibabachila, eu respondia: heim? Vitrola!