quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A Roda


Moçambique não é um país violento (comparado com o Brasil). Pelo contrário, as oportunidades que tive de andar pelas ruas de Maputo, mesmo a noite e no centro, me senti bem seguro. É claro que sempre ouvimos notícias de alguns pequenos assaltos e até de seqüestros. Entretanto já fomos abordados muitas vezes por policiais pedindo o nosso passaporte, perguntando – o que é que vocês estão fazendo a essa hora da noite aqui? Dizem que no passado era pior e hoje já é bem melhor. Os ladrões na maior parte das vezes, são os de galinhas. Roubam pequenas coisas. Os principais alvos são os carros. O nosso carro já foi vítima algumas vezes. A primeira vez foi quando fomos de férias para o Brasil e deixamos o carro estacionado na Igreja (com vigia). Certo dia, ainda no Brasil, recebo um email dizendo que roubaram o meu carro. Assustado, pensei: como é possível se estava na garagem com vigia? Mas não roubaram o carro e sim do carro. Retiraram as luzes do pisca, retrovisores e faróis. A segunda vez, foi quando a passeio por Maputo, tínhamos feito muitas compras e havíamos deixado no porta-malas como de costume. Fomos a um restaurante à noite. Quando voltamos, vimos que a janela havia sido quebrada e tudo que havia no porta-malas se fora. O rádio nem foi tocado! Mas nada supera a experiência da roda.
Um amigo missionário alemão tem um carro igual ao nosso. Certo dia, ele teve que viajar para Maputo. Como tinha estourado seu pneu sobressalente e não havia como comprar outro aqui, ele pediu emprestado o do meu carro. Beleza. Quando ele voltou, não estávamos em casa então ele deixou a roda na casa de hóspedes (tipo um hotel da igreja) que fica ao lado da minha casa. No dia seguinte quando fomos lá pegar o pneu, a diretora da casa diz que alguém entrou lá à noite (mesmo com o vigia) e roubou a roda.
É comum aqui a venda de peças automotivas pelas estradas, principalmente pneus, rodas e acessórios. Na verdade, na ocasião do primeiro roubo, após procurar em todas as lojas de Maputo, tivemos que recorrer ao “mercado negro” para adquirir de volta (literalmente) as peças roubadas. Dessa forma, mandamos pessoas alertarem revendedores dessas peças aqui em Maxixe que o meu pneu, assim, assim, assado, havia sido roubado. Contudo, mais de um mês se passou e nada de aparecer o pneu. Sempre que eu passava de carro pela estrada ou ia aos mercados procurava minha roda, nada. Assim, sem solução, tive que pedir um amigo que foi a Maputo para comprar-me outra roda e pneu sobressalente para o meu carro. Mais um prejuízo.
Cerca de 6 meses depois eu fui dar uma volta de bicicleta. Na verdade tinha planejado de fazer uma grande jornada de cerca de 50 km (ida e volta) até outra cidade. Ainda no início da viagem, do outro lado da estrada vejo um pneu parecido com o meu, a mostra no meio fio da estrada. Pensei, é impossível, já se passa tanto tempo, devo ter visto errado, na volta eu confiro, não quero perder a concentração da minha pedalada. Na volta, bastante cansado e já completamente esquecido da roda, passo em grande velocidade pelo local aonde o pneu estava (o lugar é uma grande descida). Mas de relance, vejo novamente o pneu e agora convencido, dou uma grande freada e retorno ao local. Aparece uma moça que estava cuidando da “loja”. Pergunto pelo dono. Não estava. Explico que aquele pneu era meu, que havia sido roubado. Ela desconversa e eu insisto em falar com o seu chefe. Consigo o seu telefone, mas ele não atende. Bastante agitado, saio a procura de um amigo para ver se podia me ajudar naquela inusitada situação, mas ele não estava em casa. Já era fim de tarde, começava a escurecer então eu resolvo continuar o meu caminho de volta para casa (faltava uns 6 km). Inconformado, decido mudar a rota e ir diretamente para a esquadra da polícia dar queixa. Chego lá todo suado, com roupa de ciclista, uma caricatura, reclamando que o meu pneu roubado estava sendo vendido no meio da estrada. Os policiais foram bastante simpáticos comigo (porque com alguns “suspeitos” que traziam tratavam como animais). Eles conheciam o sujeito dono da loja. Decidiram ir comigo até lá. Chegando no local, confiscaram a roda e pediram para o dono ir até a esquadra. Ele foi mas levou outro sujeito consigo. Na investigação, o dono disse que apenas estava revendendo o pneu que pertencia a esse outro sujeito. Este disse que havia adquirido o pneu de outro sujeito “desconhecido”. Me perguntaram como eu tinha certeza que aquele era o meu pneu/roda roubado. Foi fácil, eu tinha uma foto no meu celular tirada antes do pneu ser roubado ainda no meu carro. Como a única coisa que eu queria era o meu pneu de volta (na época custava cerca de 400 reais), e os outros também não queriam confusão, decidimos que eles devolveriam o pneu e eu não daria queixa de roubo. Já bem escuro, ainda tive que voltar para casa, pegar o carro e voltar a delegacia para pegar o pneu. Mas valeu a pena aquela longa jornada. Muitos me chamaram de louco, dizendo que alguém poderiam vir a minha casa ou me agredirem na rua. Fiquei preocupado durante um tempo. Graças a Deus nada disso ocorreu e já se passam 12 meses. O único problema é que agora fiquei com um sobressalente a mais. Alguém quer comprar essa roda?

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2 comentários:

  1. Ei Du, que prazer saber que vcs estao bem! Encontrei com sua mãe na casa de Marcelo e ela me deu o seu blog. Estou feliz de saber noticias boas suas e também de poder acompanhar sua estada e ao mesmo tempo "aventura" (Como A Roda). Que nosso Pai, continue te guardando, te abençoando,e te dando novas visões de reino.conte com a minha intercessão diaria. Abraço em claudia.
    Muita paz!
    Eliene (lembra?)

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  2. Eliene,

    Obrigado pela nota. Claro que lembro de si. Um grande abraço para você e seus filhos.

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